quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Independência deveria ser em 12 de outubro, diz professor


A data de 7 de setembro é considerada como a oficial do Dia da Independência do Brasil. Mas há controvérsias. Segundo pesquisadores, o dia correto para a data é 12 de outubro de 1822. Para o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Marco Morel, o Sete de Setembro foi uma criação de pessoas ligadas a Dom Pedro I para torná-lo um herói aos olhos da população.

"É aquela história né? Uma mentira repetida várias vezes vira verdade. A proclamação oficial da Independência ocorreu no dia 12 de outubro de 1822 no Rio de Janeiro, com a aclamação do príncipe português Pedro de Alcântara como Dom Pedro I, Imperador do Brasil. A partir daí é que se começou a contar oficialmente. Antes disso, houve todo um processo ao longo dos anos 1821-22, quando o Brasil foi, aos poucos, rompendo os laços com Portugal, proclamando o liberalismo contra o absolutismo, convocando uma Assembléia Constituinte separada das cortes de Lisboa, entre outras coisas. É claro que Dom Pedro teve papel importante nisso", detalhou o professor.

Segundo o professor, o então príncipe Pedro esteve, de fato, às margens do Ipiranga, em São Paulo, no dia 7 de setembro e teria dito a frase “independência ou morte”, mas tal episódio não teve maior significação na época e muito menos causou a Independência do Brasil, ao contrário do que diz a maioria dos livros e manuais de história. Nem os próprios documentos históricos, entre eles os jornais da época, consideraram a data como sendo o marco da independência do país.

De acordo com o professor, essa data virou a representação simbólica da Independência como se esta tivesse sido resultado de um gesto voluntarioso de um personagem apenas. Tentava-se assim construir uma memória conservadora, que apagasse os movimentos da sociedade e os conflitos existentes, atribuindo a criação de uma nova nação ao caráter impulsivo de um príncipe voluntarioso que teria dado um “presente” ao povo. A data começou a ser comemorada discretamente em 1825 e foi ganhando destaque ao longo do tempo.

"A lição que a gente pode tirar disso, em primeiro lugar, é que somos uma nação. Em segundo lugar, que somos uma nação em permanente construção e reconstrução e que, a exemplo dessa imagem que ficou cristalizada com o grito do Ipiranga, não é uma nação justa como gostaríamos. O próprio quadro do Pedro Américo ("Independência ou Morte", mais conhecido como "O Grito do Ipiranga", de 1888) é bastante militarizado. Gostaríamos de uma nação com direitos iguais, justiça social. Há uma série de questões ainda a resolver", afirmou ele.

Na opinião de Morel, a comemoração do Sete de Setembro ainda hoje é predominantemente militar, com os desfiles, como se fosse uma herança, uma continuação simbólica do quadro do Pedro Américo, da memória que se consolidou. Ele lembra o Grito dos Excluídos, manifestação popular que ocorre no Dia da Pátria, como uma espécie de resistência aos desfiles oficiais.

"Seria mais fácil para os jovens e até mesmo os adultos se empolgarem com a comemoração do dia da pátria se essa pátria correspondesse a uma pátria que fosse justa. Hoje virou um grande feriadão e desfile militar, o que, de certa forma, já estava previsto no quadro do Pedro Américo", opinou.

por Agência Rio

Nenhum comentário:

Postar um comentário